segunda-feira, 6 de maio de 2013

Figuras de estilo - Dicas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português, Português.



FIGURA é um desvio linguístico. É o afastamento do valor linguístico normalmente aceito; assume, assim, um novo aspecto para um fim expressivo.
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.

A) Figuras sintáticas:

1. Silepse – é aquela em que o determinante concorda com o
determinado segundo a ideia que está subentendida, e não de acordo com a lógica gramatical:
a) Silepse de gênero: “Vossa Majestade (feminino) é justo e bom
(masculino); “A gente (feminino) às vezes é obrigado (masculino) a confessar que errou”;
b) Silepse de número: “O povo (singular) corria para todos os lados
e gritavam alucinados (plural)”; “Percorria as ruas muita gente (singular) com lanternas. Tocavam e dançavam (plural)” (Jorge de Lima);
c) Silepse de gênero e de número: “A torcida (feminino, singular)
reclamava. Gritavam exaltados (masculino, plural)”; “Aquela gente (feminino, singular) toda ali, apavorados (masculino, plural)”;
d) Silepse de pessoa: “Todos (3a. pessoa) decidimos (1a. pessoa)
adiar as provas”; “Os portugueses (3ª. pessoa) somos (1a. pessoa) do Ocidente” (Camões);

2. Hipálage – figura pela qual se dá realce a um determinante,
associando-o a um termo que não é logicamente o seu correspondente determinado, assim se criando um sintagma inesperado (Mattoso Câmara):
a) “Vou subir a ladeira lenta” (Carlos Drummond de Andrade) – (lento sou eu e não a ladeira);
“E atravessou a rua com seu passo bêbado” (Chico Buarque de
Holanda) – (bêbada estava a pessoa e não o passo);
“Adélia fumava um cigarro lânguido” (Eça de Queirós) –
(lânguida é Adélia e não o cigarro);
“A beleza satânica da mulher aterrorizou Fernando” (José de
Alencar) – (satânica é a mulher);
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” (Machado de Assis) – (oblíquos são os olhos);

3. Elipse – é a omissão de um termo que pode ser subentendido pelo contexto:
“O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas” (José de Alencar) – (o sol deitava-se); “Acordei e não vi nada” (Tomás Antônio Gonzaga) – (Eu acordei e eu não vi nada);
Zeugma – é a elipse de um termo nomeado anteriormente com forma diferente: “Ele não nos entende nem nós a ele” (nem nós entendemos a ele); “Tu buscas a Terra e eu, os céus” (eu busco os céus);

4. Pleonasmo – é o emprego de palavras ou expressões que repetem o conteúdo significativo de um termo já existente, para enfatizar uma ideia ou para evitar ambiguidade:
a) Pleonasmo de ideia: “Lutavam uma luta inglória”; “Vi com meus
próprios olhos”;
b) Pleonasmo de função: “O jogo, disse que ele será fácil” (sujeito
pleonástico); “O ato do vizinho é muito mais importante do que lhe parece a ele” (Carlos Drummond de Andrade) – (objeto indireto pleonástico);
c) Pleonasmo vicioso: subir para cima, hemorragia de sangue, elo
de ligação, planejamento antecipado, adiar para depois, encarar de frente, duas metades iguais, surpresas inesperadas…

5. Anacoluto – é a quebra da estrutura sintática de forma que um elemento fique sem função sintática: “Ele, por exemplo, que teria dito dele o finado?“ (Machado de Assis); “Eu, parece-me que sim; pelo menos nada conheço que…” (Mário de Sá Carneiro);

6. Braquilogia – é o emprego de uma expressão mais curta em substituição a outra mais complexa: “Entrava e saía da sala” (entrava na sala e saía dela = da sala); “Contou tudo que ocorreu antes, durante e depois da reunião” (antes da reunião, durante a reunião, depois da reunião); “O dentista arrancou-lhe um canino” (um dente canino);

7. Inversão – é a colocação dos elementos da frase fora da sua ordem lógica: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante” (As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico); “Que importa de um nauta o berço?” (Que importa o berço de um nauta?); “Imenso trabalho nos custa a flor” (A flor nos custa imenso trabalho);

8. Antecipação ou Prolepse – é a colocação de um termo de uma oração na anterior: “Os livros dizem / que são bons” (Dizem / que os livros são bons); “O vigia foi ver as portas / se estavam fechadas” (O vigia foi ver / se as portas estavam fechadas); “A casa de Davi é certo / que foi fundada pelo verdadeiro Deus” (Padre Vieira) (É certo / que a casa de Davi foi fundada pelo verdadeiro Deus);

9. Assíndeto – é a omissão do conectivo coordenativo: “Vim, vi, venci” (=Vim, (e) vi, (e) venci); “A multidão agitou-se, murmurou, bradou, ameaçou” (= …agitou-se, (e) murmurou, (e) bradou, (e) ameaçou); “Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas, o ídolo dos noivos em disponibilidade” (José de Alencar);

10. Polissíndeto – é a repetição do conectivo coordenativo: “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua” (Olavo Bilac); “E os olhos não choram. E as mãos não tecem… E o coração está seco” (Carlos Drummond de Andrade).







Figuras de estilo

Texto 1

Era só uma metáfora

Caro leitor, você sabe o que é linguagem conotativa?
Se não sabe, eu explico: “linguagem conotativa é o contrário da denotativa”. Pronto, você nunca viu uma explicação tão clara! Só não entendeu quem não quis. É, você tem razão, foi uma explicação ridícula. É do tipo “definição circular”: ficamos dando voltas e não chegamos a lugar algum.
Bem, vamos falar sério. Linguagem conotativa é o uso da linguagem figurada, é o uso das palavras fora do seu sentido real. É aqui que encontramos as figuras de linguagem.
A metáfora, por exemplo, é aquela figura em que o seu criador parte de uma comparação. Quando alguém diz que “a menina é uma flor”, temos uma metáfora: para o autor a tal menina é tão linda, tão delicada quanto uma flor. O autor faz uma comparação da beleza da menina com a da flor.
É interessante observarmos o seguinte: se usarmos os elementos de comparação ( = assim como, tal qual, tanto quanto) não teremos a metáfora, e sim a própria comparação:
“Ela é tão bonita quanto uma flor.” ( = comparação);
“Ela é uma flor.” ( = metáfora).
Isso significa que, para entender uma metáfora, é preciso perceber a comparação subentendida.
Quando José de Alencar diz que Iracema é “a virgem dos lábios de mel”, significa que “os lábios de Iracema são tão doces quanto o mel”.
Para João Cabral de Melo Neto, a serra do sertão é “magra e ossuda”, ou seja, é tão seca ( = sem vegetação) que parece um ser muito magro, tão magro e ossudo como o sertanejo em geral.
Assim sendo, chamar alguém de burro é só uma metáfora. Significa que estamos comparando a inteligência do ofendido com a de um burro, que dizem ser mais inteligente que o cavalo. Mas isso é outra história.

Texto 2

A borracheiro e a metonímia

Metonímia é uma palavra de origem grega, formada por “meta” (=mudança) + “onímia” (=nome). Ao pé da letra, metonímia é o uso de um nome por outro.
Metonímia é uma figura de retórica que consiste no emprego de uma palavra fora do seu sentido básico (do seu contexto semântico normal), por efeito de contiguidade, de associação de idéias.
É diferente da metáfora, que consiste no emprego de uma palavra fora do seu sentido básico por efeito de uma semelhança. No caso da metáfora, trata-se de uma relação comparativa; no caso da metonímia, é uma relação objetiva, de base contextual.
Vejamos alguns exemplos de metonímia:
1)    relação metonímica de tipo qualitativo:
a)    matéria por objeto: “O ouro (=dinheiro) só lhe trouxe
infelicidade”; “Os bronzes (=sinos) repicavam no alto do campanário”;
b)    autor por obra: “Seu maior sonho era comprar um
Picasso” (=quadro de Picasso); “Adorava ler Jorge Amado” (=livros de Jorge Amado);
c)    proprietário pela propriedade: “Ontem fomos ao Álvaro”
(=bar do Álvaro);
d)    continente por conteúdo: “Adora macarrão, por isso
comeu três pratos” (=o macarrão de três pratos);
e)    consequência pela causa (também chamada Metalepse):
“Ele não respeitou seus cabelos brancos” (=velhice); “Venceu graças ao suor (=trabalho, esforço) do seu rosto”;
f)    cor pelo objeto: “O vermelho (=sangue) lhe corria pelas
veias”; “As andorinhas voavam pelo azul (=céu) do Rio de Janeiro”;
g)    instrumento pelo agente: “Ayrton Senna foi um grande
volante” (=piloto de carros de corrida);
h)    abstrato pelo concreto: “O crime (=criminosos) habita
aquela casa”; “Esperava pelo voto das lideranças” (=líderes);

2)    relação metonímica do tipo quantitativo (também chamada de
Sinédoque):
a)    parte pelo todo: “As asas (=pássaros) cortavam os céus
de Copacabana”; “Precisa de mais braços (=trabalhadores) para desenvolver a sua lavoura”;
b)    singular pelo plural: “O inimigo (=inimigos) estava em
toda parte”; “Precisamos pensar mais no idoso” (=pessoas idosas);
c)    gênero pela espécie (ou vice-versa): “Seu maior sonho
era pertencer à sociedade (=alta sociedade) paulistana”; “O homem (=humanidade) deve respeitar mais a natureza”.

Leitor desta coluna quer saber se “ir ao borracheiro” não está errado, pois verdadeiramente “vamos à borracharia”.
Não é uma questão de certo ou errado. Borracharia é o estabelecimento onde se vendem ou se consertam pneumáticos e câmaras de ar. Borracheiro é quem trabalha numa borracharia, mas também pode ser usado como sinônimo de borracharia.
Trata-se de uma relação metonímica perfeitamente aceitável e registrada em nossos principais dicionários.
É um caso semelhante ao de “ir ao dentista” (=clínica dentária) e “ir ao médico” (=consultório médico).



Texto 3

O exagero das hipérboles

A hipérbole é uma “metáfora exagerada”.
Existem exemplos famosos como “chorou rios de lágrimas” e outras bem populares: “já te disse mil vezes”; “explodiu de tanto comer”; “fez tudo num piscar de olhos”…
Leitor atento quer saber se eu considero claras as frases: “o total de manifestantes era equivalente ao de dois Maracanãs lotados” e “com esse dinheiro daria para comprar cinco apartamentos na Vieira Souto”.
Concordo com o nosso leitor. Não são comparações claras. No caso do Maracanã, nunca sei se o gramado está incluído como acontece em shows ou eventos especiais. Pior é o caso dos apartamentos da Vieira Souto. Juro que não sei exatamente o seu valor. É só consultar a seção de classificados dos nossos jornais para constatar que a variedade dos preços é grande.
O que fica é uma ideia imprecisa. Temos apenas uma certeza: é muita gente e muito dinheiro.
Prefiro outros tipos de comparação: “com esse dinheiro daria para construir dois hospitais”; “com esse dinheiro daria para pagar o 13º dos servidores”… Dessa forma, parece que o leitor teria uma maior compreensão do fato, não quanto aos valores, mas certamente teria uma ideia melhor da sua perda.
Em todo caso, é sempre bom evitarmos comparações exageradas e de difícil compreensão.
Vamos, então, fazer um teste final: um escritório em que caberiam vinte milhões de caixinhas de fósforo é grande ou pequeno?

Texto 4

A catacrese e a catapulta

O elemento de origem grega “cata” significa “para baixo”. Deve ser por isso que você nunca viu uma catarata jogando água “para cima”. Catarata é uma queda d’água.
Quem já assistiu a filmes que retratam guerras medievais deve ter visto uma catapulta em ação. Era uma arma de combate usada como alavanca para jogar bolas de fogo ou pedras por cima dos muros dos castelos.
Outro dia, lendo um artigo sobre música popular, encontrei esta pérola: “Foi esta música que catapultou a banda para a fila do gargarejo da MPB”. Fico imaginando qual tenha sido a interpretação do leitor que não tem a mínima ideia do que seja uma catapulta. Para quem ainda não entendeu, o crítico queria dizer que a tal música fez tanto sucesso que levou repentinamente a tal banda para os primeiros lugares das paradas de sucesso da nossa música popular.
E o que a catacrese tem a ver com tudo isso?
Catacrese é o nome que se dá para aquela metáfora que deixou de ser metáfora, que perdeu seu sentido figurado. É a “queda” da metáfora. Catacrese é a “metáfora fossilizada”.
Para ficar mais claro, vejamos alguns exemplos.
O alho não é dente nem nunca teve um dentinho sequer, mas você sabe qual é o nome do “dente de alho”? É dente de alho mesmo. Isso não significa que um conjunto de dentes de alho forme uma “dentadura”.
Você já viu estrelas no “céu da boca”? E umbigo na “barriga da perna”? E mamilos no “peito do pé”?
É interessante observar que a criação é metafórica, pois é feita a partir de uma comparação por semelhança.
A panturrilha é também chamada de “barriga da perna” por sua semelhança com uma barriga. Tanto é verdade que outros acham a panturrilha parecida com uma batata. Daí a “batata da perna”.
Para terminar, uma lista de catacreses: olho da agulha, cabeça do alfinete, perna da cadeira ou da mesa, cabelo do milho, boca do estômago, braço do sofá…

Resumindo:

Hipérbole – consiste no exagero de uma ideia e assim conseguir maior expressividade para enfatizar determinada situação: “Já te disse mil vezes”; “Fez tudo num piscar de olhos”; “Vai explodir de tanto comer”; “Rios te correrão dos olhos se chorares”; “Roma inteira nadava no sangue de seus filhos”; “Teus ombros suportam o mundo” (Carlos Drummond de Andrade);

Catacrese – é um tipo de metáfora ocasionada por:
1) falta de uma palavra específica: “pé da mesa”; “boca do
estômago”; “céu da boca”; “orelha do livro”; “dente de alho”; “barriga ou batata da perna”; “olho da agulha”; “De uma cruz ao longe os braços, vejo abrirem-se” (Castro Alves);
2) esquecimento etimológico (=queda do sentido original da
palavra): salário (de sal), secretária (de secreto), sabatinar (de sábado), tratante (de tratar), famigerado (de fama), marginal (de margem), rival (de rio)…

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